Metro e sessenta de gente que agora se diz viva e, que amanhã pode morrer por amores que se diriam perfeitos. Gente que se diz capaz de correr arco-íris cima e arco-íris baixo à procura do pote de ouro na tentativa derradeira de ganhar não moedas mas um amigo duende de bolso roto e coração mole que seja capaz de lhe oferecer um trevo de quatro folhas para lhe dar sorte na vida longa. Gente essa que recebe um berlinde como se lhe tivessem dado a lua para a mão fria e mal tratada. Gente viva ou não, sabe o que é ter saudades. É.
Desde ontem as palavras de ordem cá em casa são "olá Tv". Também sabemos variar e dizer "mudar canal" e "baixar som". É. O senhor meu pai andava para comprar um plasma (que para mim não passa de uma televisão gigante) e assim o fez. Não podia era ser um plasma dos mais pequenos e muito menos um daqueles que precisa de um comando para trabalhar. O senhor meu pai, altivo e teimoso, exigiu uma televisão que para além de grande fosse inteligente. Para a ligar temos de nos armar em maricas bem educados e cumprimentar o objecto artificial com um "olá Tv" (respeito e simpatia, sempre), claro que não recebemos qualquer tipo de resposta por parte da "caixa mágica", ela liga-se, apenas isso. Para mudarmos de canal, quase que berramos o número do programa que queremos ver. Portanto, a partir de agora deixamos de poder treinar a tabuada na sala, se não queremos correr o risco de levarmos no focinho por termos gritado "49" e o pai perder o golo da vitória do jogo mais importante de sempre por termos persuadido a televisão-gigante a mudar o canal.
Sinto-me tal e qual a verdadeira Pocahontas, só que não tão bronzeada e com menos 6 dedos de cabelo. No meio desta história de amor lamechas, em que dias nublados se opõem a passeios triunfantes por nenhures, como tantas outras, há que confessar, que é ele quem tem mais melanina. É. E? Gosto mais dele por isso, já que não há como não gostar (por isso e pelos beijinhos no pescoço).